Internacional

O conselho arrepiante de Luís Henrique à família de Diogo Jota

E de repente… o silêncio. Que se instalou como trovão, a separar um antes de ruído e um depois de nada. Um silêncio que passou a permitir apenas uns ecos de vozes que, bem intencionadas, tentam dar sentido ao que sentido não tem e minorar um sofrimento que vai ter ainda de crescer antes de se aprender a viver com ele. Por fim, um silêncio de um profundo vazio, já sem vozes, pessoas a entrar e a sair, jornalistas, um bispo e vários padres, flores, manchetes, homenagens.

A dor é menos difícil de suportar do que o vazio. Para este não há poções mágicas, há apenas o tempo – muito tempo – e um esforço diário para o preencher. Peça a peça, dando ao nosso mundo um novo sentido e à dor um novo significado. O verdadeiro luto da família de Diogo Jota e André Silva começa agora. No silêncio do vazio. Vai ser uma viagem dura.

Luis Enrique, treinador do PSG, falou dessa viagem com propriedade numa declaração de condolências à família de Diogo e André. Luis Enrique sabe do que fala: em 2019 perdeu a filha, de nove anos, depois de uma penosa luta contra um raro cancro ósseo. E, recentemente, revelou como aprendeu a lidar com esse vazio: fazendo questão de falar com os familiares mais próximos das coisas engraçadas e bonitas vividas com a filha, como se ela estivesse presente; e, ainda mais importante, respondendo à seguinte questão: «se eu acredito que a minha filha vive noutro lugar e nos está a ver, que dirá ela da forma como estamos a viver a sua partida?». E na resposta, que todos nós daríamos igual, o início de um processo de cura interior e até de… perdão, já que não haverá pai no mundo que não se sinta um pouco culpado, por qualquer razão, de não ter podido salvar um filho, mesmo que racionalmente saiba que não o podia ter feito. Culpado até de sobreviver ao próprio filho. E acredito, por fim, que serão os três filhos de Diogo Jota a fazer pequenos milagres todos os dias para que a mãe e os avós consigam ultrapassar este vazio imenso.

Confesso: as reações globais à morte do Diogo e do André surpreenderam-me. Na quantidade e na qualidade dos comentários. O Diogo é o tipo de pessoa que faz os outros sentirem-se bem. É brisa e não ventania. Discreto, mas ‘perfumado’. O tipo de pessoa que todos nós gostamos. Às vezes só nos apercebemos disso quando o perdemos. Só isso explica a dimensão das homenagens, em todas as áreas, em todos os quadrantes, em todos os pontos do mundo. Bem hajas Diogo.

Referir ainda que não darei um cêntimo para o inacreditável debate sobre a ausência de CR7 nas cerimónias fúnebres do Diogo e do André. Se há área onde não me atrevo a comentar, a dar ordens e muito menos julgar, é a forma como cada pessoa vive o luto, sente ou não a partida de alguém. É uma área demasiado pessoal e íntima e onde não sabemos nada para julgamentos e processos sumários.

Evito também grandes tiradas e considerações sobre o verdadeiro sentido da vida. Ao fim de quase 55 anos, apenas dois princípios me são úteis: em primeiro lugar, ser a melhor pessoa que conseguir, tratar todos com simpatia e generosidade, sabendo que quanto mais pessoas forem felizes à minha volta melhor para mim; em segundo, contentar-me com o que tenho, apreciar o que tenho. É de altíssimo risco investir a felicidade no que gostaríamos de ter ou ser… Não é falta de ambição. Pelo contrário. O lucro está no dia de hoje. Porque o dia de hoje é tudo o que temos.

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