Tiago Fernandes diz que Frederico Varandas é o melhor presidente da história do Sporting (vídeo)

— Sair do Sporting depois de treinar a equipa principal foi dar passos atrás para depois dar passos à frente?
— Na nossa carreira de treinadores, sabemos que é importante manter uma consistência de resultados. E muitas vezes vamos para um projeto um bocadinho às escuras. Ao início é tudo muito bom e bonito, mas, depois, há certas coisas que acontecem que não controlamos e devemo-nos precaver para antecipar alguns cenários. Quando saí do Sporting estava numa fase muito boa da minha vida desportiva. Tinha vários clubes interessados e a possibilidade, também, de ficar na equipa B. Mas o Frederico Varandas disse-me que eu estava a desperdiçar algumas oportunidades. Na altura apareceu o Marítimo; o Gil Vicente e depois, o Chaves, com quem tínhamos jogado em Alvalade. Gostei muito da Direção do Chaves e trataram-me muito bem. Ainda hoje mantemos relação. Aliás, se fosse hoje não saía de lá. Saí de Chaves porque foi um acordo entre mim e o presidente. Acreditava que a equipa não ia cair de divisão, pois já tínhamos jogado com os nove primeiros e só não ganhámos ao FC Porto, ao Benficae ao SC Braga, porque os outros jogos ganhámos e empatámos. E quando cheguei estávamos a sete pontos do Tondela e quando saí estávamos a quatro deles, que eram o nosso adversário direto. E nós tínhamos um calendário muito melhor. Mas são lições e aprendizagens que nos fazem crescer.
— Seguiu-se o Leixões, como foi essa experiência?
— O André Castro disse agora que se fosse por ele eu nunca sairia do Leixões porque acho que construí a melhor equipa dos últimos 20 anos. Mas, na altura, ele era apenas o presidente da SAD, não o dono. Tínhamos o Jota Silva, que está na Inglaterra, o Gonçalo Franco; o Zé Carlos, lateral-direito que foi para o SC Braga; o Jefferson Encada, que foi o meu jogador no Sporting. O Nenê como ponta de lança; o Wendel, que foi vendido ao FC Porto. Realmente, tínhamos uma equipa bastante boa, mas alguma juventude a mais.
— E no Estoril?
— Pediram-me para ficar em 5.º lugar e fui despedido em 5.º. Quando falaram comigo, o objetivo não era subir porque foi o ano a seguir ao Luís Freire em que eles desinvestiram um pouco na equipa e quiseram que eu lançasse muitos miúdos. Foi novamente fazer uma equipa que me deu também bastante prazer construir. Tínhamos o André Franco, hoje no FC Porto, o Miguel Crespo, do Fenerbahçe, o Chiquinho, que foi para o Wolverhampton e o Toti Gomes, que também foi para lá. Havia ainda o Rafael Barbosa, o Daniel Bragança e o Roberto, que fez 15 golos. Ou seja, valorizámos muitos jogadores, muitos ativos e estávamos em quinto lugar a nove jogos do fim. Penso que poderia ter acabado a época, mas houve ali uma divergência de opiniões e acabei por sair.
— Porque esteve duas épocas sem treinar?
— Também por opção, porque apareciam alguns projetos que sentia que não serviam para dar sustento à minha vida profissional. Até que aceitei ir para os sub-23 do Torreense porque o presidente teve uma conversa comigo. Era um projeto de dois ou três anos e era isso que precisava. Felizmente, tive a oportunidade de estar dois anos, subir à equipa principal e fazer uma boa época na Liga 2. Mas o futebol é mesmo assim. Hoje estou no Portimonense e se correr bem posso continuar a crescer, mas gostava muito de estar muitos anos neste clube. Não vou para lá com o objetivo de sair para outro lado. Quero estar em Portimão, estar com aquela gente que apostou em mim, que me está a dar todas as condições. E quero fazer do Portimonense um clube melhor em alguns aspetos.
— O regresso ao Sporting é um objetivo de vida, lá mais para a frente?
— Sinto-me sempre praticamente dentro do Sporting, como um amigo, um conselheiro, uma pessoa que quer ver o bem do clube. O Sporting, estando bem, eu também estou bem. O Sporting para mim não é um clube, é a minha casa; a família que nós temos ali. São muitos anos de pessoas que conheço desde que nasci, que andaram comigo pela mão. Até o presidente do Varandas, pois já nos conhecíamos desde 2010, quando ele foi médico no V. Setúbal. Tenho uma relação com o Frederico há muitos anos , somos amigos, mas não me vejo neste momento a voltar já ao Sporting , mesmo sabendo que no futebol não sabe o dia de amanhã . Porém, agora, o meu foco é fazer um bom campeonato na equipa para onde vou, o Portimonense. Depois, o futuro a Deus pertence. O que me importa é que o Sporting está muito bem entregue e muito bem liderado, tanto pelo presidente e sua equipa como pelo Rui Borges. Espero que ele faça um bom ano novamente e seja tricampeão para nos deixar todos felizes e orgulhosos. Mas, realmente, o meu foco é no Portimonense, no meu trabalho. Vou acompanhando de fora.
— O Portimonense é conhecido por ser muito organizado e fazer boa prospecção de mercado….
—Sim, é com essas pessoas que eu gosto de trabalhar, com pessoas que nos dão condições, que nos tratam bem. O Portimonense, se calhar, nos últimos cinco ou seis anos é o clube que menos treinadores teve. Lembro-me do Paulo Sérgio, do Folha e depois o Sérgio Vieira, que só lá esteve um mês. E agora o Ricardo Pessoa. Ou seja, é um clube com estabilidade em termos técnicos e isso para mim é muito bom e muito importante. Foi isso que me fez também aceitar o desafio e foi ter um presidente que eu também lhe disse que era um dos presidentes com quem gostava de trabalhar, pelo facto de dar essa estabilidade aos treinadores. É incontornável.
— Voltando ao Sporting. O clube é bicampeão. Pode tornar-se hegemónico nos próximos anos?
—É esse o objetivo da Direção, que o Sporting consiga ser mais vezes ser campeão nacional. Acho que faz falta ao futebol português porque estava um bocadinho viciado naquele Benfica e FC Porto nos últimos anos e também faz falta o Sporting ter uma equipa mais forte e determinada sabendo que neste momento acho que o FC Porto e o Benfica têm duas pessoas à frente que são muito inteligentes e que são do futebol há muitos anos. Se arranjarem uma boa equipa em seu redor podem, claramente, o Benfica e o FC Porto, ser grandes adversários. Há o o André Villas-Boas que foi treinador e que sabe o que está a fazer e o Rui Costa que foi um craque e também sabe, realmente, o que está a fazer. São duas pessoas de quem gosto bastante. O André Villas-Boas fazia parte da equipa técnica do Mourinho e eu dou-me bem com o Zé. E o Rui Costa, também, pois já privámos muitas vezes . Gostava muito que o Rui Costa tivesse sucesso, como é óbvio . E não me esqueço que quando o meu pai faleceu foram os dois ter comigo ao velório. O André veio do Porto e o Rui Costa também estava longe e veio ter comigo. E essas coisas eu não esqueço porque isso é que marca o caráter.
— Como avalia o desempenho do Frederico Varandas à frente do clube?
— Já disse várias vezes. Para mim, o Frederico é o melhor presidente da história do Sporting pelo lado humano e porque nunca vi um grupo de trabalho de jogadores que goste tanto de um presidente como dele. É sério, frontal e diz o que tem a dizer ao grupo. O que combina com os jogadores e o que é certo é está feito . Acho que é a pessoa certa para os próximos dez ou vinte anos no clube . O Sporting terá muito a ganhar com ele à frente por ser sério, por ser uma pessoa que quer o melhor do Sporting e que mete os interesses do clube à frente dos pessoais . Não tenho dúvidas porque o conheço bastante bem e acho que mesmo que não ganhe um, dois ou três anos — o que que já aconteceu — deve-lhe ser dada a continuidade porque ele pode voltar a ganhar em cinco anos três campeonatos. E também porque pegou no clube de pernas para o olho, na sua pior fase, no pós-ataque à Academia. Foi como eu quando treinei o Sporting. Uma coisa é treinarmos o Sporting agora com estabilidade, com juventude, com irreverência e com alma. Eu peguei no Sporting depois do ataque à Academia, do 2-4 em Portimão e do 1-2 com o Estoril que custou a eliminação na Taça da Liga. Peguei na equipa para ir aos Açores, ir a Londres ao Arsenal e receber o Chaves. Também não tive também a vida fácil, mas consegui trazer os jogadores para o meu lado e para o lado dos adeptos e conseguimos dar a volta. Neste momento, é mais fácil treinar o Sporting do que era antes.